Na semana passada, o grito de campeão chegou a ser ouvido no final do jogo contra o Figueirense, mas ainda não era hora. Em um típico roteiro corintiano, era preciso que o sofrimento se estendesse por mais uma semana, por mais 90 minutos de um clássico nervoso, antes que a certeza enfim viesse à tona. Desta vez no Pacaembu, o grito novamente foi ouvido antes do tempo, mas já não havia mais erro: com o empate do Vasco com o Flamengo no Engenhão, o Corinthians se consagrava campeão brasileiro pela quinta vez em sua história.
A alegria nas arquibancadas já era contagiante, mas a confirmação para os jogadores só veio minutos depois. Com o apito final e o empate em 0 a 0 com o Palmeiras, a festa tomou o campo e parecia que não teria mais fim. O Corinthians marcou o ponto que precisava – chegou a 71 –, enquanto o Vasco ficou com 69 e terminou com um honroso vice-campeonato em ano marcado mesmo pela conquista da Copa do Brasil e pela força de um grupo que lutou até o fim por dois outros títulos de porte.
O roteiro de drama que se anunciava durante toda a semana se cumpriu à risca: mesmo que não tenha perdido em nenhuma momento a condição de líder, o Corinthians não chegou a deslanchar e deixou seu torcedor com o coração na boca até os momentos finais do duelo em São Paulo.
No Rio, o Vasco botou fogo em um dos Campeonatos Brasileiros mais emocionantes dos últimos anos ao abrir o placar contra o Flamengo aos 30 minutos do primeiro tempo, com Diego Souza. Bastava um gol palmeirense para que a taça trocasse de mãos, e a equipe de Luiz Felipe Scolari era melhor em campo, mesmo que não incomodasse Júlio César.
A situação só começou a ficar confortável no segundo tempo, quando Valdivia foi expulso, minando a força ofensiva palmeirense. No Engenhão, o Flamengo empatava com Renato Abreu, anúncio que fez o torcedor corintiano sorrir pela primeira vez. Até o final, veio outra expulsão, desta vez de Wallace para o Corinthians, uma bola palmeirense na trave de Júlio César, outra de Ronaldinho que assustou Fernando Prass. Vieram os desentendimentos nos dois jogos quase simultaneamente, mais expulsões e, enfim, os gritos liberadores.
Regularidade foi a marca
Em um Campeonato Brasileiro extremamente equilibrado, levou o time que menos vacilou. O Corinthians chegou até a assustar seus torcedores no final do primeiro turno, com uma série de tropeços e um princípio de crise, ou no final do segundo, quando caiu de forma inesperada para o lanterna América-MG. No entanto, foi o time que mais se manteve no topo, por 27 rodadas e que nunca deixou de estar entre os cinco primeiros, feito inédito nos campeonatos de pontos corridos.
A conquista fecha um ano irregular, inicialmente marcado pela eliminação precoce na Libertadores, diante do Tolima, pela aposentadoria de Ronaldo e pela saída de Roberto Carlos, alvo de críticas da torcida. Tite, que também balançou no cargo em algumas ocasiões, acabou saindo como herói justamente por implantar no time um perfil lutador e de união, uma palavra, aliás, bastante ressaltada pelos jogadores ainda em meio à festa.
“Foi um ano muito bom e terminou de forma justa pela grande campanha que a gente fez. O mérito foi manter a base, é um grupo forte, com opções, mérito da diretoria e da comissão que confiou na gente. A união aqui é muito grande. Só se conquista coisas grandes assim quando há esta união”, explicou Alex.
Com uma curta, porém decisiva participação, Adriano comemorou o feito, seu segundo em três anos, ressaltando outro fator que muitos consideram fundamental na campanha. “Essa torcida merece, é incrível ver isso aqui, uma emoção muito grande”, explicou o Imperador. “Sou pé quente, bicampeão brasileiro. Não tive muitas oportunidades, mas estou feliz, porque o grupo mereceu, fez um bom campeonato desde o início. Espero que ano que vem possa dar mais pelo clube.”