'A torcida corintiana será uma vantagem no Mundial', afirma Tite

Vítor Marques - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - "Para jogar no Corinthians não consigo ver um atleta que seja insensível." A frase de Tite, dita em entrevista ao Estado, retrata bem a relação que o clube tem com sua torcida.

O treinador disse que imagina uma legião de fãs acompanhando o time no Mundial de Clubes, no Japão, e que isso pode ser uma vantagem na conquista do título inédito.

"A nossa pressão, a minha, é igual (a da Libertadores) , é uma oportunidade única, ímpar", disse. Abaixo, leia entrevista concedida ao Estado.

Quais foram as seleções sul-americanas que procuraram você antes da renovação de contrato com o Corinthians?
TITE - As pessoas procuraram o Gilmar (Veloz, empresário), umas procuraram a mim. Mas eu coloquei que não quero abrir nenhuma possibilidade (de negociação), tenho o Corinthians, estou feliz, e não abri margem de negociação.

Mas você não ficou seduzido em aceitar um projeto que poderia envolver uma seleção?
TITE - O que eu posso ambicionar mais do que um título mundial e estar no Corinthians? Quando eu pesei o Corinthians, com a estrutura que tem e uma possibilidade de um título mundial, ela esgota qualquer possibilidade.

Mas quais foram as seleções?

TITE - Não sei...(risos, não quer falar)

Um título Mundial também projeta um treinador. Pensa em dirigir um clube na Europa? 
TITE - Esse passo agora é a conquista do Mundial, esse passo é ultimo escalão que falta na minha carreira profissional dentro de um clube. E esse trabalho pode ser coroado com um título, todas as outras esferas eu tenho, depois os horizontes começam a ser abrir.

A pressão para disputar o Mundial será menor que a da disputa da Libertadores?

TITE - A pressão nossa, a minha, é igual, ela é da ambição, ela é de uma oportunidade única, ímpar. Quantas outras vezes vou ter outra chance na carreira? E esses atletas, vão ter a possibilidade? Não sei dizer, mas serão poucas. Essa pressão é igual. O que há de diferente (na Libertadores) é que é era um misto de falta de orgulho próprio do corintiano de dizer "somos campeões da Libertadores", era meio obsessivo, meio que passava do ponto.

Estimativas da Fifa apontam que haverá até 20 mil corintianos no Japão. É uma vantagem o para disputar o Mundial?

TITE - Sim, porque o torcedor corintiano tem essa empatia, ele gera essa energia, esse combustível para os jogadores, depois dos noventa minutos cobra igual, mas toma gol, começa a cantar o hino do clube. Para jogar no Corinthians não consigo ver um atleta que seja insensível, um técnico que seja fleumático, tu tem que vibrar, ela (a torcida) vai seguramente ajudar nesse aspecto.

Se esses números se confirmarem, acha surpreendente?

TITE - É uma coisa.... Imaginar tudo isso, do outro lado do mundo, sei que tem que fazer viagem em duas etapas, e daqui a pouco vamos encontrar 15 mil, 20 mil pessoas, é uma coisa que você fica imaginando. Seguramente acredito que haverá pessoas sem ingresso, vai ter gente fora do gramado, que não vai dar para entrar (no estádio) mas vai dizer 'não vou entrar, mas vou estar perto do meu time'. E o jogador sente isso.

A equipe vai chegar ao Japão em qual estágio?

TITE - Nessas duas semanas, o Fábio (Mahseredjian, preparador físico) aumentou o volume de trabalho justamente para dar um suporte nesses jogos finais (do Brasileiro), e só era possível se atingíssemos a zona de segurança. Felizmente a gente apressou o processo. Mudaram peças (em relação à Libertadores), mas a equipe retomou o ritmo, nesses últimos jogos, é pé no fundo, ritmo mais forte possível.

O quanto atrapalhou não poder escalar Guerrero e Emerson juntos?

TITE - Não sei, mas espero contar com todos para o próximo jogo, não esse contra o Atlético-GO (neste domingo), mas para o outro (contra o Coritiba). A readaptação da equipe estava envolvida em voltar a aprender a jogar de novo com pivô. Depois que perdemos para o Santos, mas com bom desempenho, ela se ajustou a jogar com pivô, podemos jogar com homem de referência ou não, e ela se ajustou e se moldou. É mais significativo que propriamente (jogar com) Emerson e Guerrero.

A equipe vai jogar no Mundial no mesmo nível das finais da Libertadores?

TITE - Esse é o objetivo, antes falava em ansiedade, se eu fosse egoísta, eu queria, mas sei que a equipe precisa desse tempo todo para atingir como ideal aquele momento da Libertadores.

Emerson, herói da Libertadores, chegou atrasado a alguns treinos. Ele é um desses jogadores 'problemáticos'?

TITE - Ele tem algumas características próprias, está reiterando os horários. Ele, o Jorge Henrique e o Alex eram os três que, no primeiro semestre, tinha de falar: 'é toda hora com vocês (chegarem atrasados). Agora a coisa ficou ajustada'.

O Emerson pode decidir o Mundial?

TITE - Ele e o conjunto todo. O Emerson ficou marcado porque foi no último jogo (final da Libertadores).

O Chelsea de hoje é melhor que o que venceu a Copa dos Campeões?

TITE - Não sei, mas é diferente na sua ideia, é mais leve, mais técnico, mais agressivo e criativo, é diferente.