quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O Corinthians protege e privilegia a sua maior arma para tentar ser bicampeão mundial: Emerson Sheik. “Descobri que sou maloqueiro, sofredor e corintiano. Graças a Deus…”

reproducao104 O Corinthians protege e privilegia a sua maior arma para tentar ser bicampeão mundial: Emerson Sheik. Descobri que sou maloqueiro, sofredor e corintiano. Graças a Deus...

cosme rimoli, 


"Chelsea?
Clube rico, né?
A última vez que eu vi perdeu por 4 a 1..."
Dessa maneira Emerson se refere ao rival corintiano no Mundial de Clubes.
Inteligente, sabe que foi uma exceção a goleada na final da Supercopa Europeia.
Mas não dá o braço a torcer.
Fala para tumultuar.
Emerson é o jogador fora da curva no time de Tite.
Aquele que vai contra todos os padrões que o treinador gostaria em um jogador.
A começar pelo nome.
Nasceu Marcio Passos de Albuquerque.
A própria mãe falsificou a sua documentação para que atuasse na base do São Paulo.
Passou a se chamar Marcio Emerson Passos.
Foi mudada também a data do seu nascimento.
Passou de 6 de dezembro de 1978 para 6 de setembro de 1981.
Nem Ponce de Leon e sua fonte da Juventude faria trabalho melhor.
Ele rejuvenesceu quase três anos.
E ficou no Morumbi com seus documentos falsos.
Com eles nas mãos foi para o Japão.
Tudo era falso, baseado no RG falsificado pela mãe.
Carteira de trabalho, de motorista, passaporte.
A farra acabou no dia 20 de janeiro de 2006.
Ao tentar embarcar para os Emirados Árabes, a Polícia Federal o deteve.
No aeroporto internacional do Rio, não teve como explicar.
O seu passaporte apontava uma data de nascimento e sua certidão de nascimento outra.
Foi condenado a três anos e nove meses de prisão por falsidade ideológica.
Mas como era menor quando houve o delito, e por ser primário, conseguiu reverter a pena.
Ela virou uma multa de R$ 70 mil e 18 meses de serviços comunitários.
Como sua rotina de jogador impedia fazer os serviços comunitários, pagou outra multa.
Mas a confusão de Emerson com a Justiça teria outro capítulo.
Ele foi acusado de lavagem de dinheiro e contrabando.
Comprou uma BMW6 por R$ 200 mil.
O carro valia R$ 310 mil.
A Justiça acusou o atacante de ter conseguido esse desconto excepcional por um motivo.
O carro pertenceria a pessoas envolvidas com a Máfia dos Caça-Níqueis.
Diante da confusão, ele teria vendido o carro por R$ 160 mil.
Em seguida, Diguinho, seu companheiro de Fluminense, teria comprado o mesmo carro por R$ 200 mil.
Um rolo que deu uma enorme dor de cabeça ao jogador.
Emerson não gosta de falar dos dois assuntos.
Da falsidade ideológica e da acusação de lavagem de dinheiro, de contrabando.
Mas até nessa hora ele não consegue segurar o riso.
Seu apelido de Sheik surgiu no Rio de Janeiro.
Ele voltava do Oriente Médio.
Em mais uma de suas aventuras, ele resolveu se naturalizar catariano.
Dizem que ele ganhou muito bem por isso, mas também não fala no assunto.
Disputou as eliminatórias da Copa de 2010 pelo Catar.
Isso isenta Mano de convocá-lo.
Mesmo aos 34 anos, ele é um dos melhores jogadores do País.
Emerson é tricampeão brasileiro.
Ganhou em 2009 com o Flamengo, em 2010 com o Fluminense e em 2011 com o Corinthians.
Não engoliu até hoje a sua saída das Laranjeiras.
Foi dispensado porque teria cantado o bonde do Flamengo no ônibus do Fluminense.
O time estava indo enfrentar o argentino Boca Juniors pela Libertadores.
Ele repete a todo instante que é debochado, mas nunca faria isso.
Após vencer a Libertadores pelo Corinthians, ele bateu no peito de um repórter da tevê.
Desabafou sua mágoa.
"Vocês erraram comigo. Saí de um clube acusado de coisas que eu não fiz.
Vocês erraram comigo", disse e saiu correndo em disparada.
Naquela mesma partida, Emerson havia desmoralizado a catimba do Boca Juniors.
Ficou a partida inteira provocando o zagueiro Caruzzo.
O argentino era muito maior do que ele.
"Fiquei chamando de maricón, bicha, o jogo todo.
E ele me ameaçando.
Quando foi colocar a mão na minha cara, mordi o dedo dele mesmo.
Foi engraçado.
E depois fiquei batendo na minha cara, provocando, falando para ele me socar.
O cara não sabia o que fazer."
Nada disso o bom moço Tite havia pedido.
Tudo partiu da cabeça de Emerson.
Que além desta loucura em campo, marcou os dois gols que decidiram a Libertadores.
O campeonato mais desejado para o corintiano...
Tanto não foi questionado pelo treinador, foi reverenciado.
"É a pitada de malandragem e talento que ajudaram muito o Corinthians a ganhar a Libertadores."
A definição é do próprio técnico.
O talento de Emerson parece ter se desenvolvido nos últimos anos.
Ele nunca esteve melhor.
E de maneira discreta, é o Romário do Parque São Jorge.
Tem regalias que ninguém tem.
Ele não abre mão de viver em Alphaville em sua mansão.
Só que fica distante 40 quilômetros do CT do Corinthians.
Seus atrasos são constantes.
Já chegou até a alugar um helicóptero para chegar na hora.
Discretamente, chegou aos seus ouvidos que teria certa tolerância em relação aos atrasos.
Tite nunca poderia assumir isso publicamente, para não ficar claro o privilégio.
Mas a regalia se explica pelo que Emerson representa ao time.
É o jogador mais talentoso e o de maior personalidade no elenco.
A grande esperança de fazer o time bicampeão mundial no Japão.
Tanto é assim que o treinador até gostou de sua suspensão por seis partidas no Brasileiro.
Ele xingou o árbitro Péricles Bassols de 'safado' e 'ladrão' no jogo contra o Atlético Mineiro.
Essas partidas afastadas foram a folga que Tite já queria dar a Emerson.
Sabe o quanto precisará dele no Japão.
Separado da mulher, seus três filhos vivem no Rio.
Mora na mansão com sua macaca Cuta, que em hebraico significa Preta.
Baladeiro assumido, sabe viver.
As amigas nas noitadas são muitas, revelam os companheiros de time.
Não se intimida diante de qualquer provocação.
Como a de um apresentador da MTV.
Assumidamente gay, ele ironizou o fato de morder o dedo do argentino.
E perguntou a Emerson se 'abocanharia' algo nele.
"Ah, com você eu perderia uma meia hora."
Quem acabou constrangido foi o apresentador.
É dessa picardia, malandragem que Tite não abre mão.
E do talento de Emerson que o treinador privilegia.
Nunca na sua história, o Corinthians dependeu tanto de um jogador de 34 anos.
Carioca de Nova Iguaçu, mas que se comporta como se tivesse nascido na zona leste paulista.
Feliz com o tratamento, com os privilégios, ele não quis voltar para o Catar.
Nem deu sequência à ótima proposta da China.
Preferiu ficar em São Paulo.
E brinca com os amigos mais íntimos.
"Aqui sou feliz.
Descobri que sou maloqueiro, sofredor e corintiano.
Graças a Deus", diz e ri debochado.
"Nasci para jogar no Corinthians..."
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Hommer

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