sábado, 11 de agosto de 2012

Há dez anos, Mano estava no Iraty. Hoje passeou sozinho, feliz demais no sagrado gramado de Wembley. A incrível trajetória de Luís Antônio, ou melhor Mano Menezes…


reproducao309 Há dez anos, Mano estava no Iraty. Hoje passeou sozinho, feliz demais no sagrado gramado de Wembley. A incrível trajetória de Luís Antônio, ou melhor Mano Menezes...
 cosme rimoli, 
Wembley...
Você abriu os olhos e percebeu que é o técnico da seleção brasileira.
Apesar de se chamar Luís Antônio, todos o chamam de Mano.
Quanta intimidade...
Precisa sair do suntuoso Sopwell spa e hotel, em Saint Albans, cidade que fica a 50 km de Londres.
Na janela do ônibus, pensamentos que não são seus começam a lhe dominar.
São flashes significativos.
A educação rígida, muito rígida em Passo do Sobrado.
Aprendeu que homem não chora.
Não mostra emoção.
O rigor dos pais, que o obrigavam a estudar se quisesse mesmo jogar
Sonhava ser artilheiro, ouvir a torcida gritando seu nome.
Era sair do Clube do Rosário, time do seu pai, para o mundo.
Só que lá mesmo começou a ouvir que não tinha habilidade para ser goleador.
Recorda-se que a falta de talento o fez recuar cada vez mais no futebol.
Do atacante sem gols, você passou a meio de campo e depois rebaixado a zagueiro.
Com personalidade, quis se livrar da pressão paterna e foi para o Fluminense.
Fluminense de Mato Leitão.
Outro fracasso.
Foi então para o Guarani
Guarani de Venâncio Aires.
Enquanto quase pagava para jogar, a família lhe obrigou a se diplomar como professor de Educação Física.
Foi lá que você desenvolveu o tom professoral na hora de dar entrevista.
O sonho de jogador naufragou, mas se formou como professor.
E técnico das categorias de base do Guarani de Venâncio Aires.
Fez o curso no Sesi, com diploma e tudo.
Você gostou, notou que tinha jeito para comandar os jovens com a rigidez que aprendeu com os pais.
Lembra que decidiu que sua vida seria como no Exército.
Sempre sonhando com promoções.
Ousado, assumiu a base do Caxias.
Sua fama de montar times pegadores, disciplinados, chegou ao Internacional.
E lá foi ele cuidar dos guris.
Lembra-se das conversas com Paulo Autuori, com quem estagiou no Cruzeiro.
Viu que era aquilo mesmo que queria, ser treinador.
E assume o time profissional do Guarani de Venâncio Aires.
De lá, o convite para o Brasil de Pelotas.
Aí, a primeira saída do Estado.
Foi para o Iraty no Paraná.
Você para, senta, toma um café e relembra.
Há dez anos você estava no Iraty, passeava pelo estádio Coronel Emílio Gomes.
Olhava com orgulho para as arquibancadas, para 8.000 pessoas.
Andava satisfeito, poderoso no castigado e careca gramado.
Pensa que daqui a pouco vai passear no templo sagrado de Wembley.
O que aconteceu nesses dez anos foi vertiginoso.
Acrescentou a ambição ao vírus da determinação inoculado pelos pais.
Traçou uma meta de promoções seguidas na sua vida.
Percebeu que havia um caminho aberto para trilhar no futebol.
Os profissionais no Brasil são muito relaxados, acomodados.
Preferem encher a barriga de cerveja e aceitar o que o destino lhes dá.
Só que você sempre quis mais.
Percebeu que o fundamental era ter um grupo na mão e saber se comunicar.
Desde cedo aprendeu o poder da palavra, da postura, o quanto o futebol respeita alguém que saiba se comunicar.
Você sempre gostou de ensinar, como professor de Educação Física.
Os jornalistas despreparados para um treinador com uma retórica convincente e firmeza foram alvos fáceis.
Desde o princípio foi assim.
E você sabe que eles são o fio condutor de uma carreira vitoriosa.
Logo depois do seu Guarany, recebeu boa proposta financeira do XV de Campo Bom.
A prefeitura local resolveu colocar dinheiro no time da cidade na Copa do Brasil.
Só que o prefeito e os vereadores não esperavam o que você iria fazer.
Conseguiu transformar o estádio Sady Schmidt na sua Bombonera particular.
Usando a imprensa local, você colocou 3.500 torcedores alucinados para torcer pelo XV.
A campanha foi espetacular.
Conseguiu levar o time ao terceiro lugar da Copa do Brasil de 2004.
E virou uma ameaça para o próprio prefeito.
Faz só oito anos...
Quando se vê com esse agasalho da seleção brasileira, nem acredita.
Mas as recordações não param.
E elas já ficam mais próximas de uma figura que mudaria sua vida.
Seu empresário, amigo e pessoa que mais o instigou na carreira: Carlos Leite.
Ao seu lado, você assumiu o Grêmio em 2005.
Um clube combalido, sem dinheiro e humilhado na Segunda Divisão.
Sem recursos, a saída foi apostar na união do time.
E em estratégia e muita proteção dos santos.
Na epopeia chamada Batalha dos Aflitos, você quase enfartou.
Apesar dos livros de inteligência emocional que já lia, ficou perto de desmaiar em Recife.
O Grêmio disputava a volta para a Série A com o Náutico, lembra?
Aí veio partida em Recife.
Você perdeu quatro jogadores expulsos e teve dois pênaltis para o time pernambucano.
Além de a bola não entrar, Anderson em um contragolpe marcou o gol que subiu o Grêmio.
A façanha virou filme.
Você tem cópias guardadas com orgulho.
Aí o Brasil o conheceu.
Quem é esse tal de milagreiro Mano Menezes?
Sabe que se o Grêmio perdesse e continuasse na B, provavelmente seria demitido.
E sua vida mudaria do vinho para a água.
Melhor nem pensar.
Veio o bicampeonato gaúcho em 2006 e 2007.
Em 2006 levou o Grêmio ao terceiro lugar do Brasileiro e o direito de disputar a Libertadores em 2007.
Fez uma campanha brilhante, lembra?
Montou um time brigador que despachou São Paulo e Santos, time de Luxemburgo, que um dia foi seu ídolo.
Mas caiu diante de um grande Boca Juniors.
Veio então novembro de 2007.
Ele e Carlos Leite chegaram à conclusão que era preciso ousar.
Ficaram entre o dinheiro oferecido por Zezé Perrella no Cruzeiro.
E a promessa feita pelo novo presidente corintiano, o bem falante Andrés Sanchez.
Ele teve a ousadia de dizer que, se aceitasse o Corinthians na Série B, sua vida mudaria de vez.
O clube o levaria para a seleção brasileira.
Frios, calculistas, você e Carlos Leite pesaram as duas propostas.
Apostaram na força da mídia do Estado mais rico do Brasil.
E na popularidade corintiana.
Montou um time guerreiro, brigador.
Com a apaixonada torcida, conseguiu chegar à Série A sem traumas.
Você virou o único treinador da elite do futebol mundial que tirou dois times da Série B e assumiu em seguida uma seleção.
O enredo da seleção começa a ficar compreensível com a chegada de um jogador que você não queria.
Tinha dúvidas se Ronaldo, desprezado pelo Flamengo, ainda conseguiria ser atleta profissional.
E ele se superou.
Esperto, você montou um time que, em 2009, faz apenas três anos, jogava por música.
Ronaldo era privilegiado taticamente, ficava mais à frente sem obrigação de lutar pela bola.
Estava no limite físico.
Mesmo assim foi sensacional e o Corinthians venceu com louvor o Paulista de 2009 e a Copa do Brasil, seu maior título.
Depois veio a decadência física de Ronaldo e a decepção da Libertadores do ano do centenário.
Mesmo assim, Andrés o bancou.
Soube que a ligação do presidente com Ricardo Teixeira se tornou umbilical.
A ponto de ter sido chamado para chefiar a delegação na Copa da África.
E você acompanhou a derrocada de Dunga.
Lembrou-se da promessa de Andrés: "Do Corinthians para a seleção.”
Preferiu não sonhar e viu que estava certo quando seu amigo Muricy Ramalho recebeu convite de Teixeira.
Quando ele negou, Carlos Leite ligou, lembra?
Dizendo que havia chegado a hora.
E ele estava certo.
Andrés contou em verso e prosa todas as suas qualidades.
E veio o convite para a seleção.
Essa foi sua trajetória até o agasalho da Nike.
Mas se recorda dos momentos fundamentais na seleção?
Como no começo, em 2010, jurando que voltaria a fazer o Brasil jogar como antigamente?
E que seus dois grandes jogadores seriam Ganso e Neymar, desprezados por Dunga.
Exatamente nesta ordem.
Você via muito mais futuro em Ganso.
Tudo era novo.
Da falta de recursos no Iraty para a abundância da CBF.
Em apenas dez anos.
Não há como não se sentir especial, um enviado dos deuses.
O time foi bem no começo contra adversários fracos.
Mas vieram as fortes Argentina, França, Alemanha e as derrotas.
A seleção já chegou pressionada na Copa América da Argentina.
Foi um fracasso, perdendo nas quartas de final nos pênaltis para o Paraguai.
Você poderia escrever um tratado sobre fraqueza emocional dos seus jogadores.
Quatro pênaltis perdidos e o seu cargo a perigo.
Você não caiu por um triz.
Andrés Sanchez fez de tudo para segurá-lo.
Ricardo Teixeira resolveu atender ao pedido já que o dirigente lhe havia transformado o presidente Lula em um amigo.
E em grande incentivador da Copa no País.
A conjunção astral o salvou, lembra?
Só que o inferno astral continuou.
Veio a indecisa formação da base da seleção.
Os jornalistas não foram tão burros assim e souberam contar.
Foram 82 convocados.
E nada de base.
Você se sentiu um pouco indeciso e inconformado com a entressafra de jogadores.
Enquanto isso, Blatter derrubou Ricardo Teixeira.
José Maria Marin e Marco Polo del Nero assumiram a CBF.
Andrés Sanchez passou de homem de confiança a primeiro na lista de dispensa.
Você teria a obrigação de ganhar a medalha de ouro na Inglaterra, se quisesse continuar.
Agora era Andrés que dependia de você para não ficar desempregado.
E não havia solução a não ser em apostar na nova geração.
Ganhou outro presente dos céus.
Thiago Silva.
Seu capitão conseguiu incendiar o jovem grupo que trouxe para a Inglaterra.
Você arriscou todas as fichas virando as costas para David Luís e apostando em Hulk.
Sua convicção que Lucas precisa amadurecer foi que pesou no esquecimento do zagueiro do Chelsea, campeão da Champions.
Marcelo era fundamental pelo seu futebol e para dominar os nervos dos mais novos.
E você também relembra em um flash que sempre quis um grande período com Neymar.
Sabia que iria melhorá-lo como jogador.
Torná-lo mais imprevisível.
Capaz de trocar um drible que não desprezaria por uma tabela, uma assistência.
Professoral, você usou toda a estratégia, paciência com o atacante.
E ele mudou radicalmente.
Percebeu a importância de jogar de forma coletiva.
Foi fácil convencê-lo.
Bastou usar a didática aprendida com os meninos de Guarani de Venâncio Ayres.
Tudo deu certo rápido demais.
E a sua seleção pode ganhar amanhã a inédita medalha de ouro.
Só o fato de ter chegado à final já deu profundo orgulho em José Maria Marin.
O presidente fez questão de posar ao seu lado em um churrasco na quinta-feira.
A picanha torrada foi um presente e uma heresia de Andrés Sanchez, sempre ele.
O diretor de Seleções foi o alegre churrasqueiro.
cbf Churrasco para comemorar a decisão da Olimpíada. E decisão da premiação pelo ouro: R$ 180 mil. A CBF economizou R$ 50 mil que pagaria para as mulheres...
Ele sabia que a presença de Marin e de Marco Polo em uma vulgar churrascada significava muito.
Melhor do que picanha queimada: a certeza da sua permanência no cargo.
Agora, a final.
O seu passeio particular, sozinho pelo gramado maravilhoso de Wembley.
O silêncio do estádio vazio.
Seus pensamentos voam.
Vão para dez anos atrás em Iraty.
Nem toda a sua ambição mostrava que aos 50 anos estaria andando no templo britânico do futebol.
Comandando a seleção brasileira na decisão da inédita medalha de ouro.
Ninguém mais o chama de Luís Carlos.
Mas você nem liga mais.
De repente, gostou do respeito com que é tratado por um apelido.
Por onde passa, há um silêncio respeitoso.
O reservado para os vencedores.
Só levar a seleção para a decisão você sabe que é uma vitória.
Sua filha jornalista não lhe treinou apenas para enfrentar a imprensa.
Mas o abastece de dados fundamentais a cada entrevista.
Você já decorou que há 24 anos ninguém levou o Brasil à decisão.
Foram duas vezes.
Dois fracassos.
Você amanhã pode conseguir o ouro que sempre escapou do futebol brasileiro.
Por isso deixa escapar, apesar de todo o seu pragmatismo, a humana revelação que sente frio na barriga.
Você deixa os jornalistas perceberem por uma fração de segundo uma lasca no personagem que criou.
Mas ela logo se fecha na coletiva de imprensa de Wembley.
Jornalistas do mundo inteiro ansiavam por suas palavras, quem diria?
No Iraty era preciso passar as notícias para o jornal da cidade.
Faz apenas dez anos.
Essa vida é imprevisível.
Mas premia a dedicação, a entrega, a busca de um objetivo.
E quem sabe aproveitar as oportunidades.
Você é a prova viva disso, Luís Antônio.
Ou melhor, professor Mano Menezes.
Por isso o passeio solitário em Wembley foi um dos melhores momentos de sua vida...
reproducaocbf Há dez anos, Mano estava no Iraty. Hoje passeou sozinho, feliz demais no sagrado gramado de Wembley. A incrível trajetória de Luís Antônio, ou melhor Mano Menezes...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seja bem vindo amigo corinthiano.

O sistema de comentários é disponibilizado aos usuários do Blog exclusivamente para a publicação de opiniões e comentários relacionados ao conteúdo deste site. Todo e qualquer texto publicado na internet através do referido sistema não reflete, a opinião deste blog ou de seus autores. Os comentários aqui publicados por terceiros através deste sistema são de exclusiva e integral autoria e responsabilidade dos leitores que dele fizerem uso.

O que não se deve fazer ao usar o Blog ?

■Qualquer uso com propósitos ilegais.
■Transmitir ou divulgar ameaças, pornografia infantil, material racista ou qualquer outro que viole a legislação em vigor no país.
■Propagar vírus de computador, programas invasivos (worms) ou outras formas de programas de computador, auto-replicantes ou não, que causem danos permanentes ou temporários nos equipamentos do destinatário.
■Forjar endereços de máquinas, de rede ou de correio eletrônico, na tentativa de responsabilizar terceiros ou ocultar a identidade ou autoria.
■Distribuir mensagens não solicitadas do tipo ‘corrente’ e mensagens em massa, comerciais ou não.
■Violar copyright ou direito autoral alheio reproduzindo material sem prévia autorização do Blog do Birner.
O que acontece a quem desobedece a uma dessas normas?

■Pode receber advertências ou, até mesmo, ter o acesso bloqueado ao blog.
■Se as autoridades competentes solicitarem, os dados da pessoa podem vir a ser disponibilizados.

Assim sendo...

Saudações corinthianas e obrigado

Timão eo!!

Hommer

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...